O bê-á-bá da educação sexual

Nas aulas do 6º ano, os estudantes do Colégio Rosário aprendem sobre o funcionamento do sistema reprodutor humano
Conversar sobre sexo com os filhos evita que eles tenham informações distorcidas e comportamento arriscado.


Quem tem filhos deve se preparar: mais cedo ou mais tarde aquelas dúvidas difíceis de serem respondidas acabam aparecendo. Pode ser uma pergunta sobre como nascem os bebês ou questões mais “avançadas” como por que as meninas menstruam, o que é camisinha, virgindade, impotência ou orgasmo. Por mais constrangedor que um pai possa considerar o assunto, uma pergunta dessas sempre deve ser vista como boa notícia, garantem os especialistas.
Quando uma criança procura o pai ou a mãe para tirar uma dúvida, seja por curiosidade ou insegurança, ela está demonstrando que, além de se sentir à vontade com eles, confia na resposta que vai receber.
A psicóloga Eliane Maio, do departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), defende que os pais se coloquem à disposição dos filhos. Ela lembra de uma de suas palestras, quando um pai disse que o filho de 12 anos nunca havia perguntado nada a ele sobre sexo. “Eu respondi que o pai nunca havia sido ‘perguntável’, e que, então, o filho deve ter aprendido na rua. Mas a rua não educa. E nem a internet. A palavra ‘sexo’ é uma das mais buscadas, mas ali a criança se depara com páginas que não precisava estar vendo.”
Um estudo internacional feito em 2009 pela empresa de segurança Symantec avaliou 3,5 milhões de pesquisas, e descobriu que as palavras “sexo” e “pornô” estão entre as dez mais procuradas por crianças na internet. Quando a família dialoga, o filho não precisa ficar procurando as respostas por aí, completa a professora. Esse clima de proximidade e de diálogo dentro da família também influencia o comportamento futuro dos jovens.
Para a psicóloga Maria Virgínia Cremasco, professora de Psicopatologia na UFPR, a sexualidade deve ser abordada a partir da percepção dos pais do que a criança quer ou precisa saber. “É importante que os pais tenham essa sensibilidade e conhecimento. Que busquem ajuda e se preparem, seja por meio de livros ou com profissionais”, afirma Maria Virgínia, pós-doutora em Saúde Mental e especialista em sexualidade humana.
A psicóloga Cirlene Felde completa: “A sexualidade faz parte do ser humano, precisamos orientar sobre as questões de cuidado, respeito, valores, momentos e maneiras melhores de se iniciar a vida sexual, conversando com meninos e com meninas”. Conheça as orientações das especialistas sobre o tema no quadro acima.

Orientação


Primeiro beijo
Uma das dúvidas que costumam pipocar na cabeça dos que estão chegando à adolescência se refere ao beijo. Mesmo que grande parte dos pré-adolescentes não admita, a insegurança costuma bater diante desse passo e esse pode ser assunto para uma conversa familiar. Mãe ou pai podem iniciar um diálogo tranquilizador contando como foi seu primeiro beijo e a importância do envolvimento que eles tinham na época.
As fases
Na fase pré-escolar, a criança entende o mundo por intermédio de símbolos que são específicos da idade. Para explicar como é formado um bebê, pode ajudar a história da sementinha ou o uso de muitas imagens, por exemplo. Já com sete anos, vai fazer mais sentido se falar de óvulo e espermatozoide. Na pré-adolescência há decréscimo de curiosidade com relação à questão sexual. O interesse costuma voltar na adolescência.
Sem angústia
Os pais se colocam à disposição, puxam vez ou outra o assunto, mas os filhos acabam não procurando por eles para falar no assunto. Isso não é motivo para preocupação. “Não é necessidade dos filhos saber tudo por meio dos pais. E assim como o filho não precisa saber tudo sobre a vida sexual de seus pais, eles também devem respeitar a liberdade do filho”, diz a psicóloga Maria Virgínia Cremasco. A dica é colocar-se à disposição.
Dando nomes
Poucas pessoas cresceram sem ter ouvido “apelidos” para as partes íntimas. Para a psicóloga Eliane Maio, o constrangimento que eles provovam já é percebido pelas crianças e deve ser evitado. “Na educação infantil até mes­mo a professora da pré-escola ensina o nome das partes do corpo – olho, nariz boca, barriga, umbigo, perna – e pula a parte genital. Mas é importante que a criança saiba e use os termos pênis e vulva – não vagina, pois vagina é o canal.”
Na escola
Há dez anos o governo federal antecipou o início da educação sexual nas escolas de 13 para 10 anos, para diminuir o número de gestações em adolescentes. Na época, eram 28 mil partos ao ano, em média. A escola é responsável por passar o conhecimento científico. Na rede pública, questões religiosas não podem interferir no que é ensinado. Na rede particular, as aulas podem seguir orientação religiosa. Cabe aos pais escolherem uma instituição que esteja de acordo com o que pregam em casa. De qualquer modo, especialistas recomendam que o tema não fique circunscrito apenas ao ambiente escolar.
Em família
A sexualidade costuma entrar nas aulas de Ciências, quando da abordagem do tema puberdade e nas aulas sobre as doenças sexualmente transmissíveis. Ao lado de assuntos como contracepção, o desejo sexual e a masturbação podem ser abordados entre explicações sobre as transformações corporais. É quando os pais falam no assunto, contudo, que é incluída a perspectiva afetiva. A partir daí as crianças percebem a importância das relações humanas envolvidas na sexualidade. Muitas vezes os adolescentes se apressam por pressão do grupo e pelo incentivo da mídia. Só uma boa orientação familiar pode deixá-lo seguro para fazer uma escolha que respeite seu próprio tempo e valores.
Botão de pânico
Por mais “cabeluda” que seja a pergunta feita pela criança, nunca é o caso de desconversar, minimizar a importância desse contato ou ridicularizar a dúvida. Deve-se tentar descobrir se o que motiva a pergunta é medo, insegurança ou só curiosidade. Não sendo capaz de dar a resposta, sugira procurarem juntos em sites, em livros ou ainda marcar uma consulta com um médico. A psicóloga Cirlene Felde orienta: “pais devem responder apenas o que a criança está perguntando. Se uma criança de 9 anos pergunta o que é transar, os pais podem devolver a pergunta: o que você acha que é? Onde você ouviu essa palavra? Depois responde considerando o conhecimento da criança no momento.”
Masturbação
Apesar de ter tido um longo período de associação com perversão e promiscuidade, o ato de masturbar-se tem sido encarado de forma mais natural nas últimas décadas. A prática é vista hoje como algo saudável para os adolescentes, pois os ajudaria a descobrir e a lidar com o prazer do próprio corpo. Alguns especialistas, no entanto, alertam que o hábito do prazer solitário pode dificultar a partilha do prazer nos relacionamentos futuros. O mais recomendável é ficar alerta porque a prática pode esconder e potencializar uma dificuldade afetiva.
Tem que se proteger
Recentemente, quando o governo iniciou a campanha nacional de vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), destinada a meninas entre 11 e 13 anos, houve certa resistência por parte dos pais. Eles se mostraram receosos ou por considerarem cedo para pensar em doenças sexualmente transmissíveis ou por temerem que a vacinação forçasse uma conversa prematura sobre sexo e doenças. A vacina está sendo oferecida às meninas antes da adolescência por ser importante que elas estejam imunizadas antes de qualquer atividade sexual. A meta nacional é imunizar 80% das 5,2 milhões meninas entre 11 e 13 anos, sendo que em 2015 a vacina passa a ser oferecida às jovens de 9 a 11 anos e, em 2016, às meninas de 9 anos. O HPV é um dos principais causadores do câncer de colo de útero e também pode ser propagado por relações sexuais. As famílias devem aproveitar a campanha para trazer o assunto à tona e esclarecer os filhos.
Aids infecta mais mulheres
A cada dia quase 2 mil jovens entre 10 e 24 anos se infectam com o vírus da Aids no mundo todo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A descoberta, no entanto, costuma demorar anos e, no caso das meninas, ainda é grande a parcela que acaba descobrindo a doença apenas ao engravidar, durante o pré-natal. De uma forma geral, segundo o Ministério da Saúde, há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, mas a faixa etária dos jovens de 13 a 19 anos é a única em que o número de casos de aids é maior entre as mulheres. Especialistas apontam como uma das explicações o fato de as meninas se envolverem prematuramente com homens mais velhos. Imaturas, elas acabam cedendo a parceiros que, muitas vezes preocupados apenas em evitar uma gravidez, estimulam as meninas a usarem anticoncepcionais hormonais, que não protegem contra doenças. Nesse ponto, os valores discutidos em família também podem ajudar as adolescentes a perceber os riscos de adotar prematuramente uma vida sexualmente ativa.
Fonte: Gazeta do Povo
Esta matéria foi aqui publicada por sugestão da orientadora educacional da EBM Batista Pereira Marli Marlene Schmidt.

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